Sei que não sou perfeita. Sei bem que estou muito longe disso. Mas todo o ser humano foi feito com imperfeições, defeitos, vícios, virtudes. A perfeição não faz sentido em seres que foram feitos para serem aperfeiçoados ao longo da vida. Como diria William Somerset Maugham, «A perfeição tem um grave defeito: tende a ser enfadonha», ou seja, até a perfeição tem incorrecções.
A ideia de Fernando Pessoa, resume tudo o que foi dito aqui até agora: «Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugná-la-íamos, se a tivéssemos. O perfeito é o desumano, porque o humano é imperfeito.»
Nunca quis ser perfeita, até porque sei que não a posso alcançar. O mais que posso fazer é aproximar-me dela. Mas nem por isso deixo de por o máximo de mim em tudo o que faço.
Quanto ao que pensam de mim? Tenho defeitos, sim. Muitos diga-se. Mas gosto de pensar que os meus defeitos são uma forma de me diferenciar de todos os restantes habitantes deste planeta. Até posso acabar o dia com mau-feitio, mas acordo sempre com um sorriso, à espera de que o dia seja risonho e feliz, o mais possível. O meu abraço pode não ser o mais apertadinho, mas é sincero. Sempre. Posso não beijar bem, mas quando o faço é sentido. Posso não vestir bem, mas uso aquilo com que me sinto bem e confortável. Não tenho os dentes alinhadinhos nem uso aparelho, mas sei que um sorriso na hora certa conforta pessoas e move o mundo. Posso ser insegura, mas sei que é uma marca de mágoa do passado que ninguém apagará, por muito que o presente valha a pena. Posso até ser ciumenta, mas sempre ouvi dizer que quem gosta tem medo de perder. Posso não ter muito para dar (principalmente a ti, que ocupas o meu coração), mas sei que tenho o mais precioso de mim: um amor incondicional, verdadeiro, fiel e amigo, que poderia mover o mundo e ultrapassar barreiras.
Parece que a minha perfeição imperfeita não chega para ti. Fica-me, pelo menos, a satisfação da minha genuinidade que ninguém pode mudar e que vale por todas as falsidades deste mundo, onde cada vez mais se fazem as vontades aos outros ou em que as pessoas se tornam máquinas do que os outros querem que elas sejam.
Eu não sou um pacote de uma massa instantânea, em que se mistura leite ou água e vai ao forno, ficando igual a tantos outros produtos, que se adquirem num supermercado qualquer. Eu sou alguém, com sentimentos, mágoas, desejos, sonhos, virtudes e defeitos. Parte de ti escolheres os ingredientes que misturas. Convém serem os certos. O bolo pode crescer. Mas também pode ficar tão intragável que tens de deitar fora e esquecer que alguma vez o fizeste.