quinta-feira, 28 de maio de 2015

Momento Pipoca: Phoenix (2014)


Terça-feira foi o dia da nossa estreia no Teatro Municipal do Campo Alegre. À falta de filmes interessantes (que não tenhamos já visto) em outras salas do Porto, optamos por uma obra mais desconhecida do público, em geral: "Phoenix", de Christian Petzold.

A premissa era deveras interessante: Nelly Lenz é uma sobrevivente de um campo de concentração que ficou seriamente desfigurada. Após a reconstrução facial, Nelly inicia a procura do seu marido, Johnny. Quando finalmente o encontra, este não a reconhece. Contudo, as parecenças com a sua "falecida" mulher motivam-no a propor a Nelly que interprete a sua esposa, para conseguirem ambos receber a fortuna que ela deixou.

Sentados no pequeno auditório, com cerca de metade da sala cheia, assistimos a mais uma colaboração entre Nina Hoss e Petzold.

Vencedora do Urso de Prata pelo seu desempenho em "Yella" (2007), Hoss deixa uma ótima marca ao interpretar uma pessoa que interpreta outra. Nelly está quebrada, por dentro e por fora. O seu mundo foi destruído pelo Holocausto e a sua própria identidade é uma manta de retalhos que nem a reconstrução da cara (que é apenas semelhante à original) consegue curar. Em alguns momentos, questionamos que motivos levam Nelly a ser uma pessoa tão dependente do seu marido. Por que razão esta mulher parece viver num outro mundo, onde só voltar a ter o amor deste homem importa. Felizmente, o motivo é explicado durante o filme (e é compreensível, face ao que esta mulher passou durante a II Guerra) e dá um maior peso às ações dos protagonistas.

O "Johnny" de Ronald Zehrfeld é o tradicional oportunista, que vê nesta mulher a chance de conseguir o que perseguia há algum tempo: a herança da esposa. Ao longo da obra, ficamos a conhecer o calculismo com que prepara o seu plano, desde a roupa de Nelly até aos comportamentos que devem ter nos momentos em que estão juntos.

A realização de Petzold é bastante eficaz. A última cena é tão simples como bela, o clímax de toda a história até ao momento. No entanto, e apesar de não ser o objetivo do realizador, gostaria de ter visto mais um pouco do mundo pós-guerra, bem como saber mais sobre as restantes personagens, sobretudo a de Nina Kunzendorf. Explorar um pouco mais a confusão de Nelly face a si própria e a sua relação com o verdadeiro Johnny seria muito bem vindo.

Phoenix
★★★½

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