quinta-feira, 23 de junho de 2016

Momento Pipoca: Haverá Sangue (2007)


A apendicite aguda que repentinamente me surgiu obriga-me a ficar em casa e a não dar descanso ao sofá... Aproveito para colocar o sono em dia e atualizar a visualização de filmes!

Ontem foi dia de ver "There will be Blood", de Paul Thomas Andersen (Boogie Nights e Magnolia). O filme, de 2007, conta a história de Daniel Plainview (brilhantemente interpretado por Daniel Day Lewis) e da sua busca incessante pela riqueza e pela fama.

A película desenrola-se no final do século XIX / início do século XX e apresenta-nos um retrato fiel dos tempos de pesquisa ávida de recursos no solo, principalmente petróleo, e do jogo de interesses sem escrúpulos que este capitalismo representa.

Neste épico - que é muito mais do que uma história sobre a febre do petróleo - há um conflito psicológico complexo com o espetador e uma reflexão sobre a família, a religião, os valores morais e até onde os mesmos se aguentam quando degradados pela corrupção, ambição desmedida, vingança, angústia e solidão.

De um lado, um combate entre as forças económicas e religiosas; do outro, a interligação entre a fé exacerbada e o fanatismo interesseiro e o egoísmo para reforço de um império pessoal. Em ambos os casos, multiplicam-se os piores defeitos da humanidade.

Com interpretações brilhantes e com intensidade física e psicológica, "Haverá Sangue" (baseado livremente em Oil, de Upton Sinclair) poderá ser (injustamente) um filme incompreendido pelas massas e pouco valorizado.

As imagens apresentadas ao longo do filme são poderosas e demonstram detalhe e produção cuidada. A nomeação para 8 Óscares (Daniel Day-Lewis venceu - merecidamente -, o de Melhor Ator) mostra a qualidade da película e da banda sonora.

O petróleo é, ao longo dos tempos, um prenúncio de guerra e sangue. E nada mais negro e angustiante do que este retrato. De destacar, a postura de Daniel Plainview com o filho H.W.: «You're not my son. You're just a little piece of competition. Bastard from a basket. Bastard from a basket! You're a bastard from a basket!»


There will be Blood
★★★★★

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Momento Pipoca: Beasts of No Nation (2015) e Diamante de Sangue (2006)

Na semana passada, eu e a Maria decidimos assistir a "Beasts of No Nation". Por coincidência do destino, ela vira "Diamante de Sangue" ("Blood Diamond") nesse mesmo dia. Ambos os títulos têm no continente africano e na guerra os seus pontos de concordância e retratam conflitos entre os governos grupos rebeldes, bem como a formação de crianças-soldado.

"Beasts of No Nation" (Cary Joji Fukunaga, Netflix)
★★★★★


Em "Beasts" seguimos Agu (Abraham Attah), um jovem rapaz de um país africano não nomeado, que perde a sua família durante um ataque. Conseguindo escapar, é encontrado por membros da NDF, uma fação extremista que está em confronto com o governo. A partir daqui, Agu é "apadrinhado" pelo Comandante (Idris Elba), o líder de um grupo de guerrilheiros da NDF, e treinado para se tornar um soldado na luta contra o regime implementado.

Durante a longa-metragem, assistimos à perda da inocência às mãos das barbaridades da guerra. Agu transforma-se: deixa de ser um menino que gosta de brincar e torna-se, segundo ele próprio, num monstro, que matou e viu matar; que foi abusado e assistiu a abusos. Aqui, a guerra é apenas o plano de fundo. O objetivo da história não passa por mostrar a violência, mas antes por acompanhar as transformações de um rapaz à medida que os horrores da guerra fazem parte do seu dia-a-dia.

No final, resta a esperança que Agu e outras crianças-soldado consigam reconstruir as suas almas e encontrar paz suficiente para voltarem a sorrir ao futuro, depois de um passado tão negro.


"Diamante de Sangue" (Edward Zwick)
★★★★★


Em 1999, a Serra Leoa está em clima de guerra civil. Pessoas assassinadas, mãos cortadas a sangue-frio e saques são a ordem do dia.

Forçosamente, Solomon Vandy, um pescador, separa-se da família durante um ataque à sua aldeia pela Frente Revolucionária Unida (RUF). Capturado, consegue escapar à mutilação e é enviado para trabalhar uma zona de exploração de diamantes.

Danny Archer é um mercenário/contrabandista que é apanhado a tentar passar diamantes pela fronteira da Serra Leoa com a Libéria. Enquanto está preso, fica a saber que Solomon (que também se encontra atrás das grades após o campo de exploração ser atacado pelo exército) descobriu um grande diamante rosa e o escondeu em algum local.

Danny convence Solomon a levá-lo à pedra e, em troca, promete ajudá-lo a encontrar a sua família Em conjunto com Maddy Bowen (Jennifer Connelly), uma jornalista americana, seguem pelo país em guerra. Pelo caminho, sabemos que o filho de Vandy é capturado pelos rebeldes e assistimos à lavagem cerebral feita, para o tornar num soldado.

Com um abordagem mais abrangente que "Beasts of No Nation", "Diamante de Sangue" envereda, numa primeira parte, pela exploração do conflito. Só depois da queda de Freetown (capital da Serra Leoa), é que o filme realmente se foca nas personagens, cada uma com posições diferentes sobre a guerra e a exploração por parte dos países "desenvolvidos".

Com grandes prestações de Leonardo DiCaprio e Djimon Hounsou, é uma obra para ver e colecionar.

domingo, 31 de janeiro de 2016

Momento Pipoca: The Revenant


"The Revenant" traz-nos - pela mão de Alejandro González Iñárritu (óscar por Birdman, em 2015) - Leonardo DiCaprio e Tom Hardy. A obra é muito destes dois atores, para além da excelente fotografia, cenários e banda sonora de Sakamoto (Babel e The Last Emperor). Mas vamos por partes...

No século XIX, Hugh Glass (DiCaprio) partiu para o oeste americano, disposto a ganhar dinheiro com a venda de peles. Partilhando as aventuras com o seu filho mestiço, Glass é atacado por um urso. Fica seriamente ferido e é abandonado pelos parceiros de caça, nomeadamente Fitzgerald (Tom Hardy), durante um Inverno rigoroso. Enquanto se debate pela vida, Glass vê ainda o seu filho ser morto.

No meio de toda a adversidade, o explorador consegue sobreviver e inicia uma jornada por território selvagem em busca da vingança, pelo filho e pela falta de companheirismo.

"O Renascido" é um filme cru, duro e visceral. Inspirado em factos verídicos e no livro de Michael Punke (2002), a obra é frenética, intensa e dramática. De tirar o fôlego ao espetador.

Com uma grande aptidão técnica e estética, a dimensão envolvente do filme transmite realismo, crueldade, frieza e retaliação. A película é séria e adulta (não aconselhável a pessoas sensíveis), onde o drama e a ação andam de mãos dadas. Há momentos em que os planos-sequência e o virtuosismo técnico fazem o espetador entrar numa quarta dimensão, onde se sente o frio, a dor e o cheiro a doença ou a terra molhada.

O conjunto de sequências, cenários e planos devem ser aproveitados nas salas IMAX, para que o espetador possa usufruir de todas as vantagens.

DiCaprio tem uma atuação de encher os olhos, arrebatadora. Sem grandes diálogos, há uma prestação multidimensional: momentos em que a dor física e emocional são eletrizantes, momentos amorfos, momentos de desgaste ou de uma energia anormais. Hugh Glass transmite um dicionário de expressões, com uma forte presença física e intensidade no olhar.

Tom Hardy (Mad Max, 2015) tem outra prestação de grande dimensão e está brilhante como John Fitzgerald, um ignorante que apenas quer salvar a sua pele, ausente de sentimentos e com imensa maldade.

Durante as gravações, os atores enfrentaram grandes dificuldades: para além do temperamento difícil do realizador, as filmagens foram efetuadas com luz natural e debaixo de temperaturas negativas. Di Caprio nadou em rios gelados e enfrentou nevões; o ator de Titanic comeu ainda fígado cru, numa cena que se encontra refletida no filme.

A obra ganhou três importantes categorias dos Globos de Ouro de 2016: melhor drama, melhor ator de drama (Leonardo DiCaprio) e melhor diretor (Alejandro González Iñárritú). Está indicado a 12 Óscares, incluindo melhor filme, melhor diretor, melhor ator e melhor ator secundário. Independentemente do número de troféus que possa conquistar, é sem dúvida um grande filme.

A única nota negativa vai para a carnificina animal transmitida durante o filme. Numa altura em que tanto se fala em direitos dos animais, são muitas as cenas cruéis e selvagens, que chocam os amigos dos seres de quatro patas. Um incremento de violência que, apesar de real para o período em que se insere o filme, é desnecessário para contextualizar o mesmo.

The Revenant
★★★★★

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Devaneio por MARIA JOÃO: Coisas de namorada

23:20 Posted by Maria João*** , No comments

Mais um dia seis. Mais um dia de festejo e, desta vez, são trinta e oito meses. 1140 dias de amizade, cumplicidade e amor. 27360 horas entre filmes, futebol, sofá e passeios por Portugal - com a descoberta de locais que ficam registados na memória, em fotografias e, sobretudo, no coração!

Não escondo que, quando esta relação se iniciou, não previa que fosse correr bem. As incertezas eram em maior número do que as garantias. Não te conhecia, nada (ou pouco) sabia sobre ti. Não sabia se o passar do tempo seria a nosso favor... Tinha receio (não por ti mas por mim). Enganei-me redondamente. Não só nos temos aguentado firme como, a que dia que passa, temos mais motivos para nos sentirmos fortalecidos (e felizes, creio eu!).

Não podia ter pedido melhor companheiro para a vida. Sempre carinhoso e a mimar-me com frequência; sempre preocupado com o meu bem-estar; sempre atento aos meus sinais, mesmo que os tente disfarçar; sempre cúmplice e amigo, nos bons e maus momentos; sempre esforçado, na vida pessoal e profissional.

Nestes três anos, não me arrependo de nada. "Ganhei-te" a ti, ganhei uma (segunda) família, que sempre me acolheu com carinho e com o maior conforto. Ganhei, principalmente, o meu sorriso. Não só pela cerca metálica que instalei (para não me roubarem os dentes!) como por tudo o que me tens dado e que tenho conquistado a teu lado.

Segurança, maturidade, vontade em construir um futuro sólido, em ser mais e melhor todos os dias. Essa vontade de te surpreender com boas ações e fazer valer ouro cada momento a teu lado. De te fazer sentir que vale a pena. De fazer sentir que valeu a pena almoçares comigo naquele dia 6... que vale a pena o esforço que fazemos (individualmente e juntos) para crescermos, evoluirmos e ultrapassar obstáculos.

AMO-TE! A tua aprendiz de cinema e mentora de música quer continuar a poder declarar-se a ti todos os dias e dar motivos para continuares a gostar de mim. Dá-me a mão, agarra-me com força e vamos continuar, lado a lado, a conquistar o mundo. O nosso mundo!



NOTA 1: depois deste texto, quero muito mimo!

NOTA 2: sim, eu aceito! (não, não estou a falar [ainda] do pedido de casamento... mas estou a falar de ver os filmes do Star Wars)

NOTA 3: depois da nota 2, quero ainda mais mimo! :)

Momento Pipoca: Star Wars: O Despertar da Força (2015)

As duas melhores personagens do filme

Enquanto espero para entrar na sala de cinema, estou rodeado de uma multidão alegre e efusiva. É compreensível tal ambiente, pois, passados dez anos, "Star Wars" estava de regresso.

A saga mais famosa da 7ª Arte voltou com pompa. Depois de uma campanha de marketing que nunca revelou demasiado acerca do enredo, o mundo debatia teorias sobre a direção que o filme iria tomar. Após anos de especulação, eis que chegara o momento e todos estavam ansiosos e, sobretudo, esperançosos que as suas expectativas não saíssem defraudadas (como acontecera com segunda trilogia).

"Star Wars: O Despertar da Força" cumpriu a promessa. Voltou às origens, com efeitos práticos, personagens carismáticas e um vilão bastante interessante.

Num filme com pouco mais de duas horas, o ritmo é frenético. Desde o tradicional texto de abertura até aos créditos finais, não há paragens e tudo está em movimento. Voltam as batalhas aéreas, os voos acrobáticos, as lutas com sabres de luz... Ah, a nostalgia...

Ao argumento e à excelente produção técnica é obrigatório acrescentar as grandes personagens que dão a cara pela primeira vez, como Rey (Daisy Ridley domina o papel e é o grande destaque do filme), Finn, Poe Dameron (apesar de ter menos tempo de ecrã que os restantes) e, sobretudo, BB-8. É bom que R2-D2 esteja atento à concorrência!

Do outro lado da cerca está Kylo-Ren, um discípulo do Lado Negro da Força cujo objetivo é honrar e terminar aquilo que Darth Vader começou. Contudo, e sem querer lançar qualquer spoiler, há mais em Kylo-Ren do que aparenta... Fico curioso em saber que caminho irá seguir nos próximos dois filmes.

Claro que o filme não é perfeito. No caso deste sétimo "Star Wars", o calcanhar de Aquiles é não tomar grandes riscos. Aliás, o argumento é bastante semelhante ao do filme original - agora designado de "Episódio IV - Uma Nova Esperança"). No entanto, não deixa de ser um ótimo começo para a nova trilogia, que realmente será avaliado após estrearem os episódios VIII e IX. Ainda assim, espero que Rian Johnson, realizador da próxima longa-metragem, leve a história para caminhos mais originais e ainda não explorados. Não quero uma quarta Estrela da Morte!

Star Wars: O Despertar da Força
★★★★